Geralmente, recebemos a informação ao longo da vida de que o Brasil sempre foi um país "neutro", assim como é hoje, ou seja: um país que vive encima do muro e nunca diz sim ou não para nenhuma nação, a fim de sempre manter as boas relações políticas de sempre (de sempre?). Mas a verdade é que só no Brasil Império, o país se envolveu em quatro conflitos armados. O primeiro deles foi a Guerra da Cisplatina.
A Guerra da Cisplatina foi um sério conflito armado entre o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata que ocorreu entre 1825 e 1828. Essa região sempre foi motivo de grandes disputas entre Portugal e Espanha desde o final do século XVII. A Espanha dominou toda região até 1816, mas nesse mesmo ano foi invadida, dominada e anexada a coroa portuguesa. Cinco anos mais tarde, Don João VI anexou a região ao Reino Unido de Portugal e Alvarges, onde o seu nome passou a ser Província Cisplatina. Como toda ação gera uma reação, essa anexação não foi aceita pela maior parte da população espanhola da região, o que desencadeou um movimento radical de independência. A anexação foi publicamente divulgada e justificada
como os direitos sucessórios que a rainha Carlota Joaquina teria sobre a região.
Os habitantes que mais se opuseram a anexação foram os provenientes da elite de origem espanhola da Cisplatina e além disso, eles não reconheciam a Independência do Brasil, sendo assim a guerra não parecia partir do Brasil, mas sim de Portugal. Espanha e Portugal eram os maiores exploradores de terras e mares em todo o mundo naquela época e consequentemente havia uma rivalidade "implícita" entre eles, de tal forma, aqueles que eram descendentes de espanhóis não aceitavam serem dominados por Portugal de uma hora para outra e ainda fazer parte de tal nação rival.
Cisplatina era uma região que ficava na parte oriental do Rio da Prata, também conhecida como Província Oriental del Río de la Plata. Essa Província era uma área estratégica, pois quem a controlasse teria domínio sobre a navegação em todo o rio da Prata, acesso aos rios Paraguai e Paraná e a via de transporte da prata andina.
Como sempre foi disputada por Portugal e Espanha desde 1680, acabou sendo objeto de vários tratados territoriais, dentre eles, os que são de maior destaque em todo o mundo: Tratado de Madrid (1750), Tratado de Santo Ildefonso (1777 - conhecido como Tratado dos Limites) e Tratado de Badajoz (1801).
No ano de 1825, com apoio da Argentina, o general Juan Antonio Lavalleja deu inicio ao movimento de
emancipação da Cisplatina. Foi assim que após toda a revolta Argentina, os líderes militares da Cisplatina declararam a independência da região. Mas não foi simples assim, houve uma dura guerra armada por três anos. Por um lado o Brasil saia em vantagem pois tinha quase dez milhões de habitantes, sendo quase metade deles indígenas, enquanto Argentina e a região que hoje é o Uruguai tinha população inferior e efetivo de soldados ainda menor.
Embora tivesse população maior que os opositores, o Brasil estava fragilizado militarmente falando, pois após a declaração da Independência do Brasil em 1822, as tropas portuguesas que estavam em Montevidéu retornaram à Europa dois anos depois, sendo todas substituídas por tropas brasileiras recém recrutadas. Foi só a partir de 1822 que o Império Brasileiro começou a criar um exército nacional com as unidades brasileiras que existiam, mas ainda havia muito o que fazer para se obter um exército bem treinado. Como havia poucos recrutas, o governo passou a tornar o serviço militar obrigatório de forma que todo homem que preenchesse os requisitos estipulados na época deveria fazer parte das tropas para combater os adversários além da fronteira. Porém, mesmo com a obrigação, devido a urgência e pouco tempo de treino, mercenários foram recrutados na Irlanda e Alemanha, mas essas tropas não ofereciam ajuda imediata, deixando o país com as mãos atadas mais uma vez.
A guerra ocorreu na fronteira que existe no norte do Rio Grande do Sul com a Argentina e a antiga província que hoje é o Uruguai. O Brasil conseguiu levantar um efetivo de 10 mil homens para lutar na guerra, enquanto o governo de Buenos Aires (capital da Argentina), recrutou apenas 800 homens. O número baixo em relação a real população dos países, se dava ao fato de que nem todos se importavam com a guerra. Os que mais se achavam ameaçados eram os portenhos e a elite.
A Guerra que durou três anos, gerou ao Império Brasileiro enormes gastos financeiros, além de inúmeras perdas humanas nas constantes batalhas, sendo a maioria dos brasileiros mortos provenientes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mesmo com exército menor, as Províncias Unidas do Rio da Prata tiveram êxito final no conflito, mas isso não se deu exclusivamente pela luta armada, mas sim porque o Reino Unido e a França pressionaram ambos os lados para o firmamento de paz na região através da Convenção Preliminar de Paz, que foi assinada em dezembro de 1828 no estado do Rio de Janeiro e instituiu a República Oriental do Uruguai, livre do domínio brasileiro, português e espanhol.
Apesar da vitória da elite uruguaia ter se dado graças a intervenção internacional e não a guerra armada, essa decisão gerou sérias consequências para o Brasil, sendo elas os inúmeros prejuízos financeiros a economia brasileira, gerando a elevação significativa a dívida interna, questionamentos da população quanto a "derrota" brasileira na guerra e o enfraquecimento do poder político de Dom Pedro I, o que certamente também pesou em sua decisão alguns anos depois de se abdicar do poder e voltar a Portugal para disputar o trono deixado por seu pai.
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