É comum vermos artigos de
importantes revistas e jornais americanos, bem como programas da TV a cabo
mostrando que milhares de jovens extraem os dentes do siso nos Estados Unidos.
É algo comum e tão rotineiro como alisar o cabelo crespo, furar a orelha ou
fazer uma tatuagem. Muitos desses jovens não precisam da extração, mas existem
lugares que fazem campanha de incentivo a fim de evitar problemas futuros.
Agora você se engana se
acha que isso é algo exclusivo da terra do “Tio Sam”. Todos os dias, consultórios
de todo o país recebem jovens e adultos com a mesma reclamação: dor causada
pelo dente do siso. Se por um lado sua extração é desnecessária, por outro é
importante e pode inclusive, evitar problemas fatais.
Todos os anos no Brasil,
mais de meio milhão de pessoas realizam a
extração de um ou mais dentes, sendo que metade dos casos é proveniente dos
dentes do siso.
O Brasil, aliás,
concentra o maior número de dentistas do mundo, com cerca de 265 mil até o ano
passado, de acordo com o Conselho Federal de Odontologia. Esse número
representa 20% dos dentistas de todo o mundo. Mesmo com a quantidade, um
tratamento odontológico ainda não é acessível à toda a população.
A chegada do "juízo"
Voltando aos temidos
sisos, algumas pessoas passam a vida toda sem os ter, já outras os tem logo na
metade da adolescência. Da mesma forma, não é difícil encontrar pessoas entre
seus 30 e 40 anos que comparecem em um consultório com um ou mais dentes do
siso nascendo. São poucos os que podem falar que seus dentes do siso não doeram ao nascer.
Esse fato se dá pelo fato
de que nossa cultura ocidental não nos ensina a mastigar direito. Em comparação,
por exemplo, com as pessoas que vivem no Polo Norte ou no Alasca, são
oferecidos alimentos como carnes para crianças pequenas, mesmo sem ter todos os
dentes de leite na boca.
Com isso, crianças que
ainda não tem dentes ou que os possuem em pouca quantidade, aprendem que para
comer o alimento precisar mastigá-lo bem. Com isso, os seus dentes crescem da
maneira correta, pois toda a arcada está sendo obrigada a triturar o alimento,
e consequentemente, os dentes cumprem com a sua função na boca.
Já em países ocidentais,
mães acostumam muito mal seus filhos (e isso incluem a nossa geração, as
anteriores e as futuras) a comerem a horrível, grudenta e cara, papinha. Será
que as mães gostariam de se alimentar com aquela gororoba? A maior parte das
mães, jamais dão um pedaço de carne ou um alimento mais duro para uma criança
antes de seus dois anos. E muitas, mesmo após essa idade, cortam o alimento em
micro pedaços no prato dos filhos, praticamente deixando o almoço e jantar “mastigado”.
O que parece ser um favor
para quem ainda “não consegue mastigar direito”, torna-se um problema futuro,
pois os dentes podem ficar desalinhados (precisando investir em tratamento
ortodôntico) ou simplesmente os sisos não tem espaço suficiente para erupcionar
na boca. Por conta disso, muitas pessoas adiam o máximo possível a extração,
muitas vezes traumatizante, de um ou todos dentes do siso.
Quando
não extrair os dentes do siso
Quando um Raio-X
panorâmico mostra que os dentes estão alinhados e a raiz está “reta”, não há
necessidade de extração. Ao menos que exista algum outro problema relacionado
com esse dente, como uma cárie. No mais, não é necessário.
Vale salientar que quem
não precisa extrair os dentes do siso deve ter uma higiene bucal redobrada,
pois como eles estão no fundo da boca, a maioria das escovas de dentes não
conseguem se aproximar, o que aumenta o acumulo de alimentos e propicia cáries.
Na maior parte das cáries, não é indicado o tratamento de canal devido à dificuldade
do tratamento no siso, sendo sempre indicado a extração. O uso de enxaguante
bucal e fio dental, aliado à uma limpeza profissional, pelo menos, há cada seis
meses já evita futuras complicações.
Quando
extrair os dentes do siso
Quando eles não conseguem
erupcionar, quando um Raio-X identifica que ele está torto, inclinado, deitado
ou impactando o dente vizinho.
Motivos
que levam alguém a extrair os dentes do siso
Existem dois motivos: o
estético e o mais importante, que se trata da saúde da pessoa. Quanto a
estética, o dente do siso pode entortar os segundo molares que se encontram ao
seu lado, o que pode gerar gasto com ortodontista ou estragar o tratamento ortodôntico
que já foi ou é realizado.
Outro fator estético é
que se o siso estiver impactando a raiz do segundo molar, a longo prazo ele
pode cair, fazendo com que a pessoa ao invés de perder apenas um dente, perca
dois. Também ocorre a perda óssea que a longo prazo pode tanto gerar a perda de
dentes, quanto deformações ósseas no maxilar e mordida.
Quanto a saúde, o dente
do siso que não surgiu corretamente ou que conseguiu erupcionar na boca, mas
está inclinado, semi incluso ou com a raiz torta, pode gerar uma inflamação, e
como consequência pode desencadear o trismo (dificuldade para abrir a boca),
periodontite (inflamação da gengiva que cobre o dente, quando está não é
totalmente aberta para o dente sair inteiro), bem como surgimento de cistos e
tumores.
Um estudo realizado nos
Estados Unidos e Inglaterra em 2005, mostrou que os focos infecciosos
existentes na boca e nos ossos maxilares estavam diretamente ligados ao aumento
de chances de infarto e AVC. Por esse motivo, desde então cardiologistas de
todo o mundo indicam que os pacientes passem por consultas periódicas com o
dentista, para excluir qualquer foco inflamatório ou infeccioso.
Só no Brasil, cerca de
300 mil pessoas morrem todos os anos por conta de problemas cardíacos, sendo
que algumas dessas vidas ceifadas poderiam ter sido evitadas com a prevenção e
tratamento de algum problema que começou pela boca. Não significa que todo
dente do siso desencadeie problemas cardíaco, mas existem chances de problemas
futuros, quando não tratados, ou de complicações para quem já possui um
problema com o coração.
O dente do siso pode
provocar inflamações muito doloridas, a ponto de analgésicos fortes não
servirem para ameninar a dor. Dependendo do nível da inflamação, a anestesia
não pega e o paciente acaba sofrendo o dobro por extrair um dente.
Além disso, não se
recomenda a extração durante o período inflamatório, sendo necessário o
tratamento prévio com antibiótico e anti-inflamatório. Extrair um siso
inflamado pode desencadear uma infecção generalizada, que pode levar o paciente
a óbito. (Veja bem, “pode”, significa que há mais chances, mas não é certeza
absoluta, pois cada caso é distinto do outro).
Hoje em dia, existem duas
formas de se extrair o siso, tanto no Brasil, como em dezenas de outros países,
sendo elas: com anestesia local ou com
anestesia geral.
O indicado é que seja com
anestesia local. Mas no caso daqueles pacientes muito ansiosos que entram em
pânico com a ideia de extrair os dentes, pode-se realizar a extração com
anestesia geral, entretanto, vale ressaltar que o tratamento acaba saindo muito
mais caro que o convencional.
Daí aparece um "boca aberta" e
diz: “mas nos Estados Unidos todas
extrações são com anestesia geral e o pós operatório é bem mais rápido e
menos doloroso. O Brasil é sempre atrasado”. Acontece que a
maior parte das clinicas americanas oferecem esse serviço, pois é mais caro e muitos
jovens com seus 15 ou 16 anos já vão a clínica com esse objetivo, mesmo sem
necessidade, como se fosse tomar uma vacina. Logo, a anestesia geral é a ideal,
principalmente quando se extrai os quatro sisos de uma só vez.
Outro ponto interessante que
os “brazuca” alegam é que o pós operatório de uma extração nos Estados
Unidos é mais rápida do que no Brasil. Mito. O que pode ocorrer é de uma pessoa
quase não ter inchaço e dor e outras que sofrem mais, mas isso se dá por conta
da complexidade da extração e de um possível processo inflamatório. Tem pessoas
que entre 20 e 30 minutos terminam a extração, pois o dente está em uma posição
fácil de se extrair. Tem outras que o dente está deitado, sendo necessário
fazer um corte maior para conseguir retirar o dente.
Por exemplo: se o dente
está inclinado ou deitado, não é possível tirá-lo inteiro, pois a raiz está
virada para o lado da garganta e não reta como os demais dentes. Nesse caso, se
o formato da raiz é torta, é necessário quebrar o dente em uma ou mais partes
para conseguir tirá-lo. Isso, aliado com a força feita na extração, mais o
tempo que a cirurgia dura, pode gerar uma semana de bochecha estilo “Fofão”,
com trismo e um pouco de dor, sendo aliviado por dipirona ou lisador.
Então chega de fingir que
lá fora é melhor, porque se fosse você nem tinha nascido aqui. Há casos e
casos. Na verdade, 90% dos que fazem tais comparações as fazem baseados em publicações de blogueiros que moram na terra do Tio Sam ou de seriados americanos. Ou seja, nada que tenha a ver com a realidade das pessoas. Vale ressaltar que uma extração em uma clínica de referência nos Estados
Unidos custa na faixa de $1.500 ( Pouco mais de R$3 mil) e no Brasil varia entre R$350 por dente a
R$2000, sendo o último o pacote com três ou quatro dentes.
Algumas prefeituras fazem
esse tipo de procedimento gratuitamente pela rede pública de saúde. Mas vale
reforçar: só faça a cirurgia se for necessário. Há casos de pessoas que não
precisavam fazer a extração, mas o fizeram e tiveram alguma complicação.
Ao decidir fazer a
cirurgia, opte por um dentista que lhe passe segurança. Se o profissional não
responde bem as suas perguntas ou não te passa credibilidade, faça o orçamento
com outro. Busque referência com quem já passou pelo procedimento, isso ajuda
muito.
Dados
sobre o tratamento odontológico no Brasil
Em 2013 foi realizada a
Pesquisa Nacional da Saúde, sendo a primeira no país. Nela concluiu-se que mais
de 55% dos brasileiros não tem o costume de ir em uma consulta odontológica
anualmente. Exceto os que fazem tratamentos ortodônticos e quem de fato está
com algum problema, a população não dá muita atenção para os cuidados básicos
da boca, da mesma forma que faz com o seu corpo ou auto estima.
População que não vai ao
dentista periodicamente:
Sul: 48,1%
Sudeste: 51,7%
Nordeste: 62,5 %
Norte: 65,6%
O centro-oeste não foi
pesquisado.
Segundo a pesquisa, cerca
de 11% dos brasileiros a partir dos 18 anos já perderam todos os dentes. Entre
os idosos o índice é de 41,5%.
O PNS também concluiu que
cerca de 28% da população brasileira dispõe de um plano de saúde odontológico,
sendo que a maior parte dos usuários se encontram no sul e sudeste do país.
Tais dados demonstram
duas certezas:
Tratamentos odontológicos
possuem valores caros e não são acessíveis aos que mais precisam, bem como não
existe um equilíbrio entre clinicas particulares e públicas como ocorre na
saúde pública comum, que por mais que o atendimento seja precário em muitos
lugares, é muito mais fácil ir à um pronto de socorro, UPA ou clínica
particular de especialidade do que ao dentista.
Outro ponto é que as
pessoas não dão muito valor a saúde bucal, ligando o tratamento exclusivamente
à estética bucal. Por isso, mesmo quando a pessoa tem condições de fazer uma
limpeza, obturação ou extração de um siso, ela prefere gastar com outras coisas
que ela acredita serem mais úteis, uma vez que não terá nenhum problema se não
cuidar dos dentes, pois ele é só “beleza”.
Medo
Embora seja raro, existem
pessoas com o quarto e quinto molar. Isso mesmo. Muita gente descobre isso
depois de fazer um Raio-X, que identifica um emaranhado de dentes entre os
ossos. Nesses casos, nem precisa de muita informação para concluir que a
extração é necessária.
São poucas as pessoas que
ganham esse “bônus” e muitas delas nem sabem que possuem esse problema. Por
isso, não se surpreenda se isso acontecer com você quando tirar um Raix-X.
O
pós operatório
No pós operatório você
deve apenas tomar o medicamento corretamente, não ingerir álcool, evitar o fumo,
comer alimentos frios ou em temperatura ambiente (como sorvete, purê, sopas,
etc), evitar falar e mastigar e retornar ao dentista no dia indicado para remoção dos pontos. Há casos em que o fio utilizado não precisa ser removido,
mas nesse caso o seu dentista te avisará previamente. Não use antisséptico com álcool,
pois isso prejudica o processo de cicatrização.
Talvez algum parente mais
velho conte alguma experiência traumatizante que passou, mas leve em
consideração que a tecnologia mudou muito nas últimas décadas e o procedimento
pelo qual esse parente passou, dificilmente será o mesmo nos dias atuais. E
claro, existem dentistas e “Dentistas”, assim como existe bons e maus
profissionais em todas as áreas.
Sendo assim, se você
fizer parte das estatísticas, siga as regras para não ter nenhum problema
depois. Avise seu dentista se tiver alergia a algum medicamento, bem como se
tem alguma doença e toma remédio para trata-la. Ainda que você tenha apenas uma
insuficiência cardíaca discreta ou se lembre vagamente que passou mal depois de
tomar determinado remédio, não deixe de avisá-lo. Decidir fazer a extração de
um dente deve ser decorrente de uma relação de confiança entre você e o
profissional que está lhe atendendo.
Assim, aguardaremos o
ranking desse ano, com o número de extrações do dente retardatário que mais faz
as pessoas terem “dor de cabeça” no mundo.
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Sobre a Autora do Artigo
Syl é jornalista, pianista, apaixonada por carros e artes (em especial a primeira e a sétima) e muitas outras coisas. Nas horas vagas compartilha conhecimento no fantástico mundo da bloguesfera.
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