Ao contrário do que muita gente presume por ai, o movimento operário não surgiu com a criação da CUT ou dos esforços cheios de pretensão política do ex presidente da República, "Lula". Historicamente o movimento surgiu em 1917, tendo seu ápice continuo nos três anos seguintes a sua criação. O movimento operário brasileiro é um movimento de trabalhadores que influenciados por movimentos comunistas na Rússia decidiram através da greve reivindicar seus direitos como redução de jornada de trabalho, aumento de salário e melhores condições de trabalho.
Quando surgiu, vários estados brasileiros viviam uma época repleta de greves, em especial o estado de São Paulo, onde cerca de 70 mil trabalhadores pararam de trabalhar para exigir aumento salarial e melhores condições de trabalho. Todos esses trabalhadores se mantiveram na paralisação por uma semana, atitude que foi duramente reprimida pelo governo paulista da época. Apesar da repreensão, houve um acordo que aumentou o salário dos trabalhadores em 20%.
O movimento são surgiu ao acaso, pois naquela mesma época o comunismo saia vitorioso na Revolução Russa. Esse fato influenciou grupos de operários em todo o mundo que acreditavam que a solução para a desigualdade e exploração em que viviam era colocar um fim a exploração capitalista e construir uma nova e justa sociedade.
Como não podia ser diferente para a época, o movimento foi reprimido em diferentes partes do mundo, inclusive aqui no Brasil. A alegação das autoridades que representavam o governo brasileiro, era que todos os grupos de revolucionários estavam sendo iludidos e controlados por lideranças radicais estrangeiras. Quatro anos mais tarde, em 1921, o Brasil aprovou a Lei de Expulsão de Estrangeiros, que além da prisão, previa a deportação sumária de toda e qualquer liderança que estivesse envolvida com o movimento. Essa lei focou principalmente nos anarquistas que foram rapidamente expulsos do país após a sanção da lei.
O problema é que por se tratar de tumulto generalizado, o anarquismo logo se expandiu pelo país e conseguiu inúmeros adeptos nas primeiras décadas do século XX. Os trabalhadores apoiavam os anarquistas, pois o governo e os patrões eram vistos tanto pela classe operária como pelos anarquistas como inimigos que deveriam ser combatidos a todo custo, uma vez que o jogo político era exclusividade das oligarquias e na época praticamente não existia proteção ou garantias trabalhistas. Três nomes que se destacaram no anarquismo brasileiro foram José Oiticica, Everardo Dias e Edgard Leuenroth.
Mas o anarquismo e o movimento operário brasileiro passaram a dividir os grupos espalhados em todo o país. No Rio de Janeiro, por exemplo, havia uma corrente política moderada, que não visava revolucionar o sistema político brasileiro, mas seu único interesse era obter conquistas específicas como o aumento salarial, redução da jornada de trabalho e reconhecimento de sindicatos por parte do Estado. De forma completamente oposta ao anarquismo, esses grupos cariocas atuavam de forma legal e até apoiavam ou lançavam candidatos. Eles foram apelidados pelos anarquistas e grupos operários simpatizantes ao anarquismo de "amarelos"
Um Ano mais tarde, a corrente comunista passou a se difundir dentro do movimento operário nacional. Mais uma vez, foram influenciados pelo comunismo na Rússia e criaram por aqui o partido político PCB (Partido Comunista do Brasil, hoje escrito como PC do B). Curiosamente, dentre os fundadores do primeiro partido comunista do Brasil, estavam ex-lideranças anarquistas, como Otávio Brandão e Astrojildo Pereira.
Com a divisão entre comunistas e anarquistas, havia nítida distinção entre os ideais pregados, pois se por um lado os anarquistas viam o Estado como algo ruim que devia ser combatido de todas as formas, os comunistas viam o Estado como um espaço que devia ser dominado das mãos daqueles que o dirigiam e transformado para o "bem maior". Tanto de forma ilegal como (raramente) de forma legal, as duas concepções idealistas saíram em busca de aliados que os ajudasse a fortalecer a busca pelos seus ideais políticos. Luís Carlos Prestes foi cogitado para entrar no movimento comunista brasileiro, mas ele acabou se exilando na Bolívia em 1927. Através da única face legal do PCB, que era o Bloco Operário Camponês (BOC), conseguiu eleger dois vereadores para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro no ano de 1928, sendo eles o intelectual Otávio Brandão e o operário Minervino de Oliveira.
Apesar de todos os esforços, nada disso foi o suficiente para produzir uma mudança significativa na vida da classe trabalhadora até o término do século 20. Mesmo quando alguma nova norma era sancionada, raramente esta era aplicada. O movimento operário não tinha recurso para se instalar em várias localidades, assim como hoje são os sindicatos, movimentos de menor expressão e partidos. Eles costumavam se concentrar a alguns poucos centros urbanos. Apesar do empenho e pouco resultado, foi com na década de 1920 que o movimento começou a se legitimar entre trabalhadores de diferentes ramos, tornando-se um ator político que ainda teria presença marcante nas décadas seguintes. Esses movimentos inclusive influenciaram na criação de sindicatos e na realização de greves que marcaram o cenário político entre as décadas de 80 e 90 e antes disso, no período da segunda guerra mundial, pressionaram fortemente o governo de Getúlio Vargas para que o país se unisse aos Estados Unidos e lutasse na guerra. Foi justamente com essa política de união aos aliados entre Brasil e Estados Unidos que surgiu a siderurgia nacional, com isso essa área deu um salto gigantesco na década de 50, em especial a metalúrgica, mas os movimentos da classe trabalhadora estavam longe de se ter um fim e muitas novas histórias ainda estavam por vir.
Syl é jornalista, pianista, apaixonada por carros e artes (em especial a primeira e a sétima) e muitas outras coisas. Nas horas vagas compartilha conhecimento no fantástico mundo da bloguesfera. |
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