O Estado de São Paulo tem atualmente pouco mais de 44 milhões de habitantes, de onde pouco mais de 8 milhões são abastecidos pelo Sistema Cantareira. Devido a seca histórica vivida na região sudeste, sobretudo no Estado de São Paulo, a população que é abastecida por esse sistema corre o risco de ficar sem água e algumas regiões já convivem com o racionamento. O que muita gente não sabe é que o sistema cantareira não se trata de um rio ou represa, mas sim de algo muito mais amplo. Ter o conhecimento desse fato nos faz compreender o problema enfrentado pelos paulistas, que ainda não é tão grave quanto parece para a maior parte da população, mas que não está longe de acontecer.
A partir de agora, compreenda como funciona o Sistema Cantareira e como ele influencia no abastecimento de água potável de diversos municípios da região metropolitana do estado de São Paulo.
O Sistema
A ideia partiu do governo do Estado de São Paulo na década de 60, quando a população havia aumentado consideravelmente para quase cinco milhões. Por conta disso foi construída diversas represas localizadas nas nascentes da bacia hidrográfica do Rio Piracicaba, originando o Sistema Cantareira.
Seis anos mais tarde foi iniciada a construção de barragens para o sistema, como a Paiva Castro (na época conhecida como barragem Rio Piracicaba), Atibainha e Cachoeira. Em 1976, cria-se os reservatórios de Jacareí e Jaguari, ocasião em que houve aumento de 22 mil litros por segundo ao Sistema Cantareira.
Ao contrário do que muita gente pensa, o Sistema não se limita à uma grande represa, mas está atualmente presente em vários municípios, como: Joanópolis, Franco da Rocha, Mairiporã, Bragança Paulista, Piracaia, Vargem, Caieiras e São Paulo. Além disso, possui reservatórios em outras partes da cidade.
O administrador direto do Sistema Cantareira é a Sabesp e esse sistema concentra um volume de até 990 milhões de metros cúbicos de água, sendo este o maior sistema administrado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
As barragens existentes são interligadas através de extensos e complexos túneis, canais e uma estação de bombeamento construída para ultrapassar a barreira física da Serra da Cantareira. Sua distância chama a atenção pelos inúmeros locais por onde passa, além de contar com uma extensão de área de drenagem que se estende até o sul do estado de Minas Gerais.
O Sistema atende a população da zona norte da capital paulista, alguns bairros da zona oeste e leste da cidade de São Paulo e as cidades de Barueri, Itapevi, Cotia, Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Santana de Parnaíba, Osasco, Carapicuíba, Jandira, Itapevi e São Caetano do Sul. Também há abrangência nas regiões de Taboão da Serra, Santo André e Guarulhos.
A Crise
O verão iniciado em dezembro de 2013 não trouxe chuvas significativas como todos estão acostumados. Desde aquele período, o estado de São Paulo passou por temperaturas altas (chegando à 38º nos dias mais quentes e com sensação térmica de quase cinco graus a mais), ar seco e pouca ou nenhuma chuva, dependendo da região.
Por conta disso, o nível do sistema cantareira começou a baixar e a ANA (Agência Nacional de Águas), juntamente com o DAEE (Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo) decidiram que fosse realizada uma redução na vazão máxima de captação de água do sistema a partir de março de 2014. Por conta disso, desde esse período algumas regiões deixaram de ser abastecidas pelo Sistema Cantareira e passaram a ser abastecidas por outros dois sistemas: Guarapiranga e Alto Tietê, sendo o segundo o responsável pela região oeste: Santana de Parnaíba, Barueri, Cotia, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Jandira, Carapicuíba, Itapevi e região.
É importante salientar que esses municípios passaram a ser abastecidos pelo Sistema do Alto Tietê, mas não ficaram sem água.. Muitos moradores dessas cidades nem sabem de tal transferência, pois não teve seu dia a dia afetado. Esporadicamente, pode vir a faltar água nessas regiões, bem como em outros locais que não enfrentam o mesmo problema, pois se trata daquelas manutenções de última hora, onde a Sabesp desliga a água (conhecida popularmente como "água da rua") em períodos noturnos ou à tarde e ligam algumas horas depois. Tais situações não tem relação com a crise do Cantareira.
É importante salientar que esses municípios passaram a ser abastecidos pelo Sistema do Alto Tietê, mas não ficaram sem água.. Muitos moradores dessas cidades nem sabem de tal transferência, pois não teve seu dia a dia afetado. Esporadicamente, pode vir a faltar água nessas regiões, bem como em outros locais que não enfrentam o mesmo problema, pois se trata daquelas manutenções de última hora, onde a Sabesp desliga a água (conhecida popularmente como "água da rua") em períodos noturnos ou à tarde e ligam algumas horas depois. Tais situações não tem relação com a crise do Cantareira.
Para evitar o racionamento, desde fevereiro de 2014 o consumidor que economiza água, tem desconto de até 30% na conta. Esse fator agradou a maior parte dos paulistas, pois passaram a se auto educar com o consumo consciente de água e ao mesmo tempo, obter desconto significativo na conta emitida pela Sabesp. Esse sistema de descontos foi implantado, inicialmente, em 31 municípios da grande São Paulo.
Ainda no mês de março, mais precisamente no dia 17, a Sabesp iniciou obras nas represas de Joanópolis e Nazaré Paulista, a fim de captar o chamado "volume morto". Esse volume se trata de uma reserva de cerca de 300 bilhões de litros de água que ficam abaixo do nível das atuais comportas e que na época, foi divulgado que sua capacidade de abastecimento na região metropolitana duraria 4 meses. Entretanto, fazem quase seis meses desde que seu uso foi permitido. Vale salientar que o volume morto não foi extraído de todo o sistema cantareira como algumas propagandas políticas fazem a população acreditar, mas apenas das duas represas já citadas acima.
Atualmente existe uma obra para capitar as águas do rio Paraíba do Sul, do qual é usado para abastecer o Rio de Janeiro. A princípio houve um certo problema de comunicação entre o governo paulista e o antigo governo carioca, sendo necessário a intervenção do MP para chegarem à um denominador comum. A proposta é que o Sistema Cantareira capte as águas do rio Paraíba do Sul quando este estiver cheio, como em períodos de chuvas em que o nível da água fica acima do normal. Por outro lado, quando houver uma cheia no Sistema Cantareira, essa água seria captada pelo Paraíba do Sul, sendo então, um reservatório do outro. Essa obra ficará pronta entre 2015 e 2016.
A partir de maio de 2014, foi anunciado que assim como quem economiza água obtêm desconto na conta mensal, aqueles que desperdiçam e aumentam o consumo em relação a média dos últimos doze meses de 2013, tem de pagar uma multa de 30% a mais do valor do consumo. No mesmo mês, o Sistema Rio Grande passou a atender mais uma parte da população que antes era atendida pelo Sistema Cantareira.
Ainda em maio, o desconto de 30% na conta de água foi ampliado para mais onze municípios. Até a última semana, os reservatórios do Sistema Cantareira se encontravam em 7,2% de sua capacidade, sendo a pior marca de sua história. O mês de setembro chegou com chuvas e só no dia 26 de setembro chegou a chover quase 70 mm na cidade de São Paulo, o que não aumentou o nível do sistema Cantareira, mas que pelo menos o manteve no mesmo nível.
Poderia ter sido evitado?
Você evitaria sair de casa se presumisse que levaria um tiro ou evitaria pintar os cabelos com a coloração "X" se soubesse que ela deixa as pessoas carecas, mas tudo isso são hipóteses. Em ano eleitoral é normal que apareça diversos militantes dizendo que o governador poderia ter evitado o problema de escassez de água no Estado, havendo inclusive a intromissão e opinião da Presidente Dilma Rousseff e da ONU, que por sua vez só serve para dar palpites na rotina de todos os países.
Poderia ser alguém do PV, do PT, do DEM ou de qualquer outro partido. Poderia ser Marina Silva a governadora do estado de São Paulo, e ainda assim ninguém poderia imaginar que o sudeste viveria uma seca como a desse ano. E se por acaso esse ou qualquer outro governador cogitasse a hipótese de aplicar politicas de consumo consciente e investir, por exemplo, em novas represas, o povo ia se rebelar e dizer que isso era superfaturamento. Alegariam que não estava faltando água e que estavam pagando a conta, portando, poderiam gastar como quiser. Hoje, a maioria das pessoas colaboram com o consumo consciente não porque querem, mas porque precisam e de quebra ganham desconto. Quando mexe no bolso, o tom da conversa se torna outro.
Algumas pessoas dizem que o governador poderia ter investido na despoluição do Rio Tietê para que a atual situação não acontecesse, e tem quem até cometa o "crime hediondo" de falar da despoluição do Rio Pinheiros para consumo. Se você mora, trabalha ou já passeou pela capital paulista e região metropolitana, já percebeu que o Rio Tietê e, principalmente, o Rio Pinheiros são esgotos à céu aberto e que mesmo que aja investimento para a sua despoluição, essa água não seria própria para consumo, pelo menos não nos próximos cinquenta, cem ou duzentos anos. Quanto ao Rio Tietê, este está em processo de despoluição desde 2012, onde vários municípios da região metropolitana se comprometeram à tratar o esgoto de suas respectivas cidades para despoluir as águas. Mesmo assim, pense no tamanho do Tietê. Se o despoluíssem, você aceitaria beber sua água? É claro que não!
Por mais que após o problema aparecer diversos intelectuais formados pelo Google, pela moda do momento ou pela campanha politica que são pagos para fazer, tenham surgido para dizer o que poderia ser feito, a pergunta é: porque nunca foi feito por governos anteriores? Por que o governo federal nunca pensou nisso? Afinal, o presidente está acima dos governadores. Não fez por que o PT nunca governou o estado de São Paulo e por isso deixa de enviar recursos, limitando-os as ciclovias de Haddad como se o estado não fizesse parte do país?!
Dizer o que podia ser feito é fácil. Pagar um de deus franzino no horário eleitoral prometendo, implicitamente, chuvas e água tratado é fácil, quero ver fazer isso preventivamente.
Embora algumas regiões (a minoria) tenham sofrido com o racionamento e pior que isso, a falta de água nas torneiras por dias, cerca de 90% da população em mapa de risco não tem sofrido efetivamente a falta de água, exceto pela mudança radical de rotina. Caso as tendências meteorológicas de outubro se concretizem, essa fatia mais afetada do problema também terá o abastecimento de água normalizado.
Falta de água é sempre um problema, ainda que seja apenas uma hipótese, mas todo o drama que algumas militâncias e a mídia sensacionalista tem feito, faz parecer que todo o estado está morrendo sem água. As propagandas políticas fazem parecer que os moradores de São Paulo não tomam mais banho e saem no tapa por um caminhão pipa por conta de uma represa sem água, quando na verdade e como você pode constatar nesse material, o Sistema Cantareira é muito maior que isso e o problema em questão é grave, mas está longe de ser o filme de terror que as minorias estão exibindo nos cinemas da "vila". O problema existe, ainda que isolado a determinado lugar, mas generalizar não resolve o problema, só cria um novo. As invés de imputar o que poderia ser feito, mostre que é um candidato capaz: faça acontecer!
Que esse problema sirva para nos conscientizarmos que o fato de algo ser natural e nos dado gratuitamente por Deus, não significa que se não cuidarmos, vai durar para sempre. Tomara, que o novo pensamento de "consumo politicamente correto" prevaleça quando a situação se normalizar e os descontos das contas for cortados. Algumas atitudes não são exclusivas de governantes, sejam eles quem for, mas sim de nós mesmo: a população.
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Sobre o Autor da Matéria
Syl é jornalista, pianista, apaixonada por carros e artes (em especial a primeira e a sétima) e muitas outras coisas. Nas horas vagas compartilha conhecimento no fantástico mundo da bloguesfera.
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