O
número de solicitações subiu cerca de 2000%, superando dados da 2ª guerra
mundial. Seus crimes: existirem. Seus objetivos: manterem-se vivos.
Conceder
refúgio é uma prática, normalmente, discricionária, não obrigando nenhuma nação
a concedê-lo, exceto quando a lei daquele país assim prever. Esse é o caso do
Brasil. Com o estatuto dos refugiados, sancionado em 1997 pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso, aquele que preenche os requisitos que identificam a condição
de refugiado, tem seu pedido acolhido no país.
Essa
facilidade incomum em outros países, sobretudo da Europa, chama a atenção de
milhares de pessoas, sendo que metade delas chegam ao Brasil com a famosa “cara
e coragem”, a fim de começar uma nova vida.
A condição
de refugiado não se confunde com asilo político. Considera-se refugiado quem
está correndo riscos iminentes a sua integridade física, liberdade e vida em
seus países originários, onde, em resumo, estão ferindo os direitos humanos
dessas pessoas. Para ser considerado refugiado, ainda, não pode haver a
condição de crime, basta que o refugiado esteja sendo perseguido ou corra o
risco de perseguição devido sua religião, raça, opinião política, nacionalidade
e grupo social.
Esse é o
caso de milhares de palestinos e sírios que tem fugido para diversas partes do
mundo a fim de preservar suas vidas da condição de guerra de seus respectivos
países. São guerras entre ditadores do extremismo islâmico, são grupos
terroristas dispostos a matar qualquer um que seja cristão ou judeu ou que
simplesmente não concorde com a carnificina promovida todos os dias pelos jihadistas
e demais grupos derivados deles.
Como
funciona o sistema de reconhecimento de refugiados
Para
solicitar a condição de refúgio, é preciso que a pessoa esteja no Brasil e ao
chegar em território nacional manifeste sua vontade de ser refugiado junto a
Polícia Federal, consulado ou embaixada. Caso seja identificado os requisitos
obrigatórios para ser refugiado, o CONARE
(Conselho Nacional dos Refugiados) conferirá a declaração de reconhecimento
de refugiado. A análise que antes durava entre 4 e 5 meses, hoje é resolvido em
até uma semana, devido a situação caótica que sírios tem vivido na Síria.
A condição
de refugiado não é perpétua, perdurando apenas enquanto existir a perseguição
no país de origem. Quando aquela perseguição religiosa, política, racial,
social ou xenofóbica terminar, extingue-se a condição. Isso não significa que
quem é refugiado será deportado, mas se quiser continuar no país terá que
proceder com outros procedimentos dentro da legalidade.
Vale
ressaltar que o refúgio não cabe em quem representa perigo nacional e/ou
internacional. Por exemplo: um membro do Estado Islâmico não teria o refúgio
concedido no país, pois é reconhecido como membro de um grupo terrorista pela
ONU e dezenas de outros países. Apesar do Brasil, sob representação da atual
governante nacional, ter dito há menos de um ano que defende o diálogo com os
terroristas que tem decapitado cristãos, judeus, opositores, gays e mulheres em
vídeos surreais de maldade explicita, a lei não permitiria condição de apoio e
proteção a quem coloca a vida alheia em perigo, pois a vontade de um governante
não é superior a lei que visa atender a coletividade e não o particular.
Essa
condição, que não é concedida em todos os países, estende seus efeitos aos familiares
do refugiado. Por exemplo: se um homem obtém a condição de refugiado, todos os
familiares que o acompanham, como pai, mãe, filho, esposa, irmãos, cunhados,
etc, tem a proteção da condição estendia à eles, sendo estes também
considerados refugiados.
Os
refugiados no Brasil
Essa “facilidade”
tem atraído muitas pessoas para o país, sobretudo para São Paulo, Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e Paraná. Há alguns anos, a maioria dos refugiados eram
provenientes de países africanos ou derivados destes, como também alguns da
América Latina. Hoje, ainda há muita gente, por exemplo, da Angola no país, mas
o recorde é de palestinos e sírios, sobretudo, sírios.
Homens e
mulheres que estudavam, trabalhavam, tinham seus negócios, suas profissões e de
repente tiveram de fugir sem olhar para trás. Muitos com a roupa do corpo e pouco
ou nenhum dinheiro. São professores, advogados, músicos, engenheiros, estilistas, arquitetos, matemáticos e dezenas de outros profissionais que hoje vivem em São Paulo e
trabalham no comércio varejista do centro da cidade.
O estado de
São Paulo possui várias comunidades árabes, das quais recebem muito bem
refugiados de países do Oriente Médio. É o caso de um empresário iraniano do
ramo têxtil que concedeu emprego a alguns sírios há pouco mais de um ano, mesmo
sabendo que eles não sabiam falar português.
No Brás,
bairro conhecido pelo grande número de comércios populares do estado, estão boa
parte dos refugiados sírios e palestinos. Há advogados e engenheiros que sonham
poder voltar a trabalhar em suas profissões aqui no Brasil.
Eles têm
aulas de português na Mesquita do Pari,
mas muitos acabam desistindo das aulas devido a jornada puxada que a área de
vendas exige do funcionário. A maior parte dos que estão aqui há cerca de um
ano já conseguem se comunicar normalmente. Alguns misturam o português com o
inglês, a fim de tentar expressar seus sentimentos, opiniões, desejos e medos.
Recentemente,
o site R7, do mesmo grupo da TV Record, entrevistou alguns refugiados sírios,
perguntando o que eles trouxeram de mais importante da Síria. As respostas
surpreendem e nos fazem perceber o quanto o valor das coisas é grande quando se
perde tudo e também que não vemos nada do que devíamos, quando temos o mundo em
nossas mãos. Um rapaz trouxe uma blusa dada pelo seu pai, do qual o homem, que
ficou na Síria, entregou ao filho no dia da viagem, alegando que era “pra
você se lembrar de mim”.
Há pessoas
que trouxeram seus certificados acadêmicos e outros que só conseguiram tirar
uma foto do diploma e deixar como lembrança no celular. Outros pegaram um
relógio, um anel e tem até uma mulher que alega que o que trouxe para o Brasil de
mais importante foram suas três filhas.
Em 2014, 2.320 solicitações de refúgio foram aceitas no Brasil. Os dados oficiais do primeiro semestre de 2015 não foram
divulgados, mas o número também é muito alto, principalmente depois que jihadistas
tomaram metade do território sírio há dois meses, colocando o terror em
moradores que receberam quatro opções: pagar uma taxa alta para viver, mudar de
religião, ir embora ou morrer. Ainda assim, muitos, sem dinheiro e condições
físicas para se locomover livremente permanecem no país, podendo ser executados
a qualquer momento por grupos que se acham no direito de tirar a vida daqueles
que escolheram Deus, ao invés de alah. Tudo isso graças a grupos de radicais
islâmicos que não respeitam as diferenças e querem impor seu autoritarismo à
qualquer custo.
Mais 200 mil sírios já foram mortos na guerra |
Vale
ressaltar, a fim de evitar atitudes preconceituosas, que ser muçulmano não é sinônimo de terrorismo. Você encontra, por
exemplo, na Turquia, uma população onde cerca de 80% se declaram muçulmanos, entretanto,
a República da Turquia é uma nação laica, não possuindo religião oficial, assim
como no Brasil. Eles são maioria, mas homens e mulheres costumam usar as vestimentas típicas em Istambul, onde
ficam concentradas várias mesquitas.
A maioria
dos frequentadores das mesquitas da capital vão para orar, não para ter
atitudes de intolerância. São homens, mulheres e crianças que vivem livremente,
sem ofender ou invadir o espaço dos outros. É como no Brasil, um país laico,
mas que metade da população se declara católica, mesmo que não entrem em uma
igreja há décadas ou tenham cometido mais erros do que quem se assume no “mundão”.
Há feriados católicos no Brasil, assim como na Turquia. Mas não há a imposição absoluta
da religião. É algo livre e respeitoso entre todas as pessoas, nacionais e
estrangeiros.
Logo, livre-se
de um possível preconceito bobo de que muçulmanos são pessoas perigosas. Eles são pessoas como você, cheias de sonhos,
medos e sentimentos. Os radicais islâmicos são terroristas, que matam, supostamente,
em nome de alah, Mas a verdade é que a maldade já existe dentro deles e usar
uma religião é só uma válvula de escape para quem não valoriza a vida humana.
Se não tivessem uma religião ou se pertencessem à qualquer outra que não fosse
a islã, usariam tais escolhas como “bengalas” para justificar seus atos cruéis
e desumanos.
Saiba
também que não existem apenas sírios refugiados no Brasil. O país dispõe de quase 8 mil refugiados de 81 nacionalidades
diferentes. Segundo os dados divulgados no início do ano, os sírios figuram em
primeiro lugar do ranking de refugiados, seguidos pelos colombianos e
angolanos. Libaneses tiveram quase 400 solicitações de refúgio aceitas em 2014.
O CONARE acredita que em 2015 as
solicitações cheguem a 17 mil e destes, mais da metade preenchem os
requisitos legais e tem a declaração de reconhecimento de refúgio emitida.
André
Ramires, um representante do alto comissariado para refugiados da Organização das Nações Unidas – ONU –
informou que o número de refugiados no mundo, atualmente, já superou o de
deslocados na segunda guerra mundial.
Alguns grupos
sociais, bem como igrejas protestantes e católicas de diferentes lugares tem
tentado ajudar refugiados, bem como os imigrantes de países vizinhos a aprender
uma profissão, aprender falar português e exercer algum trabalho remunerado no
país. Muitos conseguiram trabalhar dando aulas de inglês e árabe, bem como
arranjaram emprego na área de vendas após indicações e aulas desses grupos.
Refugiados
x Imigrantes
Os imigrantes da América do Sul não são considerados refugiados, uma
vez que não preenchem os requisitos impostos pela lei. Logo, e se os
bolivianos, haitianos e diversos imigrantes de outros países fossem
considerados refugiados, então teríamos número superior há 50 mil estrangeiros refugiados
no país.
Imigrantes
não estão em condição de perseguição, mas costumam sair de seus países em busca
de melhores oportunidades, a fim de conseguir dinheiro e estudar. Muitos, após
fazerem um “pé de meia” costumam voltar aos seus países, outros formam famílias
e depois de alguns anos fazem o pedido para adquirir nacionalidade brasileira.
A
realidade, o medo, o recomeço
Quanto aos sírios,
eles costumam fugir em até três gerações, levando desde crianças de colo até os
avós com seus 70 e 80 anos, pois o estado Islâmico também mata crianças e
idosos. O problema é que as comunidades árabes já estão saturadas e chegam no
país cerca de três a quatro famílias por semana. A maior parte deles não dispõe
de dinheiro e os que possuem, não conseguem se manter sozinhos sem arranjar um
emprego, pois a unidade monetária dos países árabes tem valor inferior a moeda
brasileira.
Alguns
refugiados já passaram noites dormindo na rua, pois chegaram sem ter para onde
ir, sem muito dinheiro e sem falar português. A única certeza que eles tinham
era que nenhum grupo terrorista poderia executá-los por aqui, mesmo que por
enquanto ainda não tivessem condições dignas para viver. Um grupo que cuida dos
refugiados na Mesquita do Brás tenta
ajudar a conseguir hotéis baratos para os recém chegados, mas nem sempre os hotéis
estão dispostos a fazer um valor abaixo da tabela.
Vale
ressaltar, que algumas pessoas que preenchem a condição de refugiados, por
sentirem extremo medo de serem encontradas, não pedem a condição de refugiados,
indo viver com parentes ou comunidades árabes existentes no país, em especial
no sul e sudeste. Da mesma forma, muitos que obtiveram suas solicitações
aceitas, não tem coragem de divulgar seus nomes ou serem fotografados em
entrevistas, pois temem pela vida de seus familiares que ainda se encontram na
Síria.
Logo, o
motivo principal desse material é mostrar que refugiados não são pessoas que
cometeram crimes e estão fugindo de seus respectivos países, mas são pessoas
como você, que tentavam viver da melhor forma possível, mas precisaram fugir
para não serem mortos, pois seus mundos se transformaram em pedaços de um minuto para o outro.
Esses
refugiados gostam muito do Brasil. Sabe, eles veem aquele Brasil que só as
crianças conseguem ver, pois os adultos estão ocupados demais reclamando da
vida. Eles veem um país de paz. Não um país sem violência, pois aqui tem e
muita, principalmente porque temos uma legislação que beneficia o réu e
negligência a vítima. Mas no sentido de não sermos perseguidos por sermos como
somos. Eles veem no Brasil pessoas que acolhem independentemente da religião,
cor ou nacionalidade.
Muitos
ainda estão surpresos e maravilhados com o fato de protestantes e católicos os
ajudarem. Em seus países isso não existe. Aliás em seus países, crer em um Deus
que não seja o instituído pelo governo ou pelo grupo mais forte, é como uma
sentença de morte.
Eles amam o
Brasil e querem começar de novo. Eles não escolheram vir para o Brasil. Eles
simplesmente não tiveram escolha e tiveram de vir devido as circunstâncias em
que viviam. Mas estão se sentindo livres aqui, mesmo com o aperto no peito por
não saber se está tudo bem com seus amigos e familiares que ainda estão em seus
respectivos países.
Se essas
pessoas de uma cultura tão distinta da nossa consegue ver flores em nossos
jardins, porque você e tantas outras pessoas veem só os espinhos? Abandone essa
“casca”, esse rótulo, essa carapuça da síndrome de vira-latas e se aceite, se
ame, acredite, tenha fé, não invada o espaço dos outros, não exija respeito:
respeite-se!
Os
refugiados podem não saber, mas são um excelente exemplo para muitos
brasileiros que tem mania de sempre dizer que tudo no Brasil é um “lixo” e tudo
no exterior é lindo e maravilhoso. Chega de “coitadismo”, aqui é Brasil. Não
espere perder o que tem, para começar a valorizar o que tinha. A tendência é
que a paz seja cada vez mais escassa nesse mundo, por isso, faça valer a pena
enquanto você tem essa oportunidade.
E quando
você souber de um refugiado, não fique bravo, não esboce preconceito ou
qualquer atitude negativa. Olhe para si mesmo e pense que você está usando a
sua camiseta, que você pode visitar um amigo ou falar com um parente e eles não.
Muitos deixaram suas roupas e vivem aqui de doações, de roupas usadas que de
repente nem fazem seu estilo, mas os deixam felizes, pois podem chamar de “meu”.
Tem filhas
com saudades dos pais. Tem pais com o coração apertado pensando nos filhos. Tem
crianças e adolescentes com saudades das brincadeiras e conversas com os amigos
depois da escola. Tem gente que tudo o
que tem são lembranças, fé e a certeza de que aqui estão seguros. Eles confiam em você, em mim, no Brasil.
Eles gostam
tanto do país que gravaram um vídeo clipe em São Paulo. Sírios, angolanos, camaroneses,
congoleses e muitos outros se uniram para gravar uma música em um projeto
inédito no Brasil. O tema é “Refugees in Brazil” ou Refugiados
no Brasil. Aliás, hoje, 20 de junho, é dia mundial do refugiado.
No curta
metragem eles conferem depoimentos, agradecem, explicam o que é ser um
refugiado e mostram a união e alegria por estarem vivos. Abaixo segue o vídeo
completo com uma música de letra sincera e ritmo envolvente. A produção é de
iniciativa do Grupo Jovem Brasil e
contou com o apoio da ACNUR e Caritas.
Após assistir ao vídeo se pergunte: Você
já agradeceu a Deus por estar vivo e ser livre hoje ou continua reclamando dos
problemas que te deixam infeliz?
Syl é jornalista, pianista, apaixonada por carros e artes (em especial a primeira e a sétima) e muitas outras coisas. Nas horas vagas compartilha conhecimento no fantástico mundo da bloguesfera.
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Muito bom seu artigo .Também estou pesquisando sobre o assunto para um artigo .
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