O Brasil abriga mais de 200 milhões de
habitantes em um multicultura admirável. Com o sul e parte do sudeste com
maioria de descentes de alemães, holandeses, italianos e ingleses, o país
abraça diversas outras culturas, absorvendo o melhor de cada uma para si e
tornando o território brasileiro uma preciosidade única em todo o mundo.
Algumas, porém, adentram despretensiosamente
o cotidiano de milhões de pessoas e de alguma forma conseguem despertar o que
resta de melhor em cada um de nós. O México está na América do Norte, mas o que
aproxima o país do Brasil não é o idioma ou distância dos países, mas sim a sua
arte simples, delicada e com uma essência única que ultrapassa fronteiras e
invade corações, culturas e vidas.
Prova disso são as novelas mexicanas.
Mesmo quem não gosta de assisti-las consegue admitir que entre produções
nacionais e mexicanas, as mexicanas tem muito mais história, enquanto as
brasileiras investem mais em cenas intensas de brigas ou de sexo. Não é que as
produções nacionais sejam ruins, mas elas já perderam a riqueza dos mínimos detalhes.
Quando foi a última vez que você viu uma cena valorizando a riqueza de um olhar
ou aperto de mãos? Nem eu me lembro. As novelas mexicanas tem casais, vilões e
coadjuvantes engraçados, mas o que é mostrado é a essência da simplicidade. Uma
certa inocência envolvida no drama conquista milhões de adeptos todos os dias.
O nome de atrizes e atores já são tão conhecidos no país quanto os nacionais:
Thalia, Jaime Calil, Maite Perone, Ludovicka Paleta, Adamare Lopez e muito
mais.
Grande “culpado” dessa volta a
inocência e pureza de uma cena de amor é o SBT – Sistema Brasileiro de
Televisão. Por décadas tem investido em transmitir produções mexicanas
dubladas, desde a época da extinta TVS. Dentre essas preciosidades, na década
de 80 começou a ser exibido um seriado qualquer, de alguns moradores pobres de
um cortiço. Adultos vestidos de crianças e tornando brincadeiras bobas motivo
de risos incessantes. Parecia ser só mais um programa. Mas não foi. Foi O
PROGRAMA.
Chaves é uma versão dublada do Chavo
del ocho”. Produção mexicana criada por Roberto Bolaños e interpretada por ele
e seus amigos Carlos Vilagran, Maria Antonieta de las Nieves e cia.
De repente, pessoas estressadas e
preocupadas demais com seus problemas começaram a se dar conta que “As
pessoas boas devem amar os seus inimigos” e que “Quem come e não reparte nada,
acaba com a barriga inchada”. Crianças, jovens, adultos e idosos
começaram a parar em frente à TV para rir de piadas que já conheciam, mas que
pareciam tão puras, simples e divertidas, que um bis era sempre bem-vindo.
A série começou a ser gravada na
década de 70 e só no Brasil está no ar há mais de trinta anos. As frases da
série entraram no cotidiano das pessoas, do pobre ao milionário, do menino ao
idoso. Na escola ou faculdade, era inevitável não deixar escapar um “Que
burro! Dá zero pra ele”. No dia a dia, quando não se quer dizer o nome
de alguém que está chegando ou indo embora, é comum a brincadeira: “Já
chegou o disco voador”. Pequenos
detalhes que se tornaram parte de cada um, mesmo depois de muito tempo ser
assistir o programa.
Comer um sanduíche de presunto e não
lembrar do Chaves arregalando os olhos para o lanche de Quico é inevitável. O
seriado, juntamente com o super herói atrapalhado – Chapolim – conquistou toda
a América Latina. Os brasileiros cresceram e seus filhos, netos e bisnetos
continuaram vendo Chaves tornando o dia a dia de uma vila pobre, um momento
especial. Já sabemos as piadas. Sabemos o momento exato da pancada que seu
Barriga vai levar, do tabefe que seu Madruga dará no Chaves, do Quico chamando
sua mãe e tudo o mais, mas é sempre engraçado.
No Brasil, em especial, talvez
tenhamos nos apaixonado pela turma do Chaves por um motivo que nunca havíamos parado
para pensar: o seriado e seus excelentes atores mostram de forma inocente, pura
e simples um humor inteligente. Detalhes pequenos do dia a dia que muitos de
nós já paramos de olhar. A corrida ferrenha por nos adequar ao estereótipo da “galera”,
nossa peleja diária e tudo o mais nos fazem esquecer das coisas simples da
vida. Muitos humoristas surgem todos os dias e alguns são realmente bons, mas
Roberto Bolaños conseguiu imortalizar a inocência. Mostrou que podemos ser
sempre jovens se mantermos a inocência de uma criança. Talvez muita gente já
tenha perdido isso... E que amargas são...
Todas as produções possuem um público
alvo definido, mas Chaves atingiu todos. O país que se aglomerava para comprar
ingressos para ver um dos integrantes da série no Brasil, recebeu a notícia com
o desejo de que fosse só mais um Hoax correndo na internet. Mas era uma
dolorida verdade.
A comoção decorrente da morte de um
gênio ocorre em todo o mundo. Seu funeral será no maior estádio mexicano, mesmo
em que Pelé fez um gol. Roberto amava futebol. “Seria melhor ter ido ver o Pelé”!
Em toda América Latina e México, pessoas de diferentes idades saíram as ruas
caracterizados com roupas dos personagens como uma forma de dizer: “Obrigado
por ter feito parte da minha infância e sido nosso amigo de infância.”
Roberto abandonou o cigarro durante o
auge de sua carreira, mas enquanto fumante chegava a usar um maço por dia. Na
velhice, o vício superado há anos veio cobrar a conta. Tornou-se diabético e
com problemas respiratórios. Em uma das últimas homenagens públicas com os
personagens do Chaves, Roberto estava respirando com a ajuda de um galão de
oxigênio e na hora de ir embora passou mal. Fiou muito emocionado com a
homenagem e teve dificuldades para respirar. Foi parar no hospital.
Depois de anos de luta, o pequeno Sheakespeare – significado de Chespirito
– deu seu último suspiro em sua casa em Cancún, no México. Coincidentemente, o
SBT exibia o episódio em que Seu Barriga pensa que vai morrer e por isso quer
vender a Vila, quando a programação foi interrompida para comunicar o
falecimento do personagem principal. Logo depois, a emissora voltou com sua
programação normal, dando continuidade ao episódio: “O carequinha vai comprar a Vila”–
disse Chaves no retorno da programação.
A partir desse domingo, as 11 da manhã,
o SBT inicia uma semana de homenagem à Roberto Bolaños no Memorial da América
Latina. Ocorrerá uma exposição no Pavilhão do México, com curiosidades do
seriado. Lá os visitantes poderão aproveitar para deixar uma mensagem para o
seriado e para o personagem. A entrada é gratuita. O endereço é:
Memorial da América Latina – Pavilhão México
Av: Auro Soares de Moura Andrade, 664 – Estação Barra Funda do metrô -
São Paulo.
Telefone para dúvidas: 011 3823 4600
Quem for de Metrô ou Trem, basta
descer na Estação Barra Funda e caminhar poucos metros. De dentro da estação é
possível ver o prédio. Provavelmente o policiamento será reforçado devido ao
público esperado, mas ainda assim evite andar com Tablets e Smartphones nas
ruas ao redor do Memorial. Use-os apenas no interior do memorial.
No domingo, o programa Eliana mostrará o último adeus à Roberto Bolaños direto do México. O programa será transmitido das 15h as 19h.
No domingo, o programa Eliana mostrará o último adeus à Roberto Bolaños direto do México. O programa será transmitido das 15h as 19h.
Existem jovens de oitenta e tantos anos, e também velhos de apenas vinte e seis! Porque velhice, não significa nada! e a juventude volta sempre outra vez!
Chaves: Por que não podemos brincar na rua?Quico: Já se esqueceu que morre uma pessoa atropelada há cada vinte minutos?Chaves: Então esperamos alguém ser atropelado e brincamos por dezenove minutos.
Roberto Bolanõs se foi, mas seu legado
ficou imortalizado. Ele mostrou que não é preciso falar palavras chulas ou
maltratar alguém para ser engraçado. Ele foi uma criança de oitenta e tantos
anos! Mantendo a inocência acima da realidade cruel desse mundo. E você, tem sido um velho de apenas 26?
Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele". Lucas 18:17_____________________________________________________________________________ Sobre o Autor do Artigo
Syl é jornalista, pianista, apaixonada por carros e artes (em especial a primeira e a sétima) e muitas outras coisas. Nas horas vagas compartilha conhecimento no fantástico mundo da bloguesfera.
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Alegrou gerações e gerações om seu humor inocente, sem precisar falar um palavrão ou mostrar gente pelada.
ResponderExcluirAliás, o seriado ainda está aí... Vai alegrar muitas pessoas ainda.
Abraço
Andreia
http://detransimulado.blogspot.com.br/
Humor inocente, as vezes até meio estúpido, mas era melhor exemplo do que muita coisa que tem aí...
ResponderExcluirAbraços, querida!