No último sábado a maior parte do mundo,
sobretudo Brasil e Holanda, ficaram indignados com o governo Indonésio em
sentenciar seis pessoas a pena de morte através de fuzilamento, mesmo após seus
respectivos pedidos de clemência. Todos os sentenciados eram acusados de
tráfico de drogas, sendo cinco deles estrangeiros. Mas você entendeu o real
motivo da repercussão do caso? Compreenda agora.
Alguns grupos de pessoas frustradas, amargas,
desiludidas com a justiça, que são
ótimas para compensar a anatomia falando “pelos cotovelos” ou se tornando
grandes intelectuais covardes ao se esconderem na internet, apoiaram o
fuzilamento dos sentenciados, em especial do brasileiro, mas o que esses seres “humanos”
não sabem é que nem todos eram traficantes, embora fossem tratados como tal. Alguns
deles, inclusive o brasileiro, eram mulas. Não, não é a mesma coisa.
Quem decide, por qualquer motivo, ganhar
dinheiro para entregar drogas é sim muito burro por opção e em nenhum momento
viso retirar sua culpa, mas quando alguém, movido pela ilusão do dinheiro “fácil”
ou desesperado para pagar alguma dívida se envolve com esse tipo de crime, ela
está errada, deve ser punida, mas não atenta diretamente contra avida de alguém.
Logo e em tese, deve ficar reclusa pelo tempo que o respectivo Estado punitivo
determinar.
“Ah, mas quantas pessoas ele não ia matar
com as drogas que seriam entregues no país e quantas já não haviam morrido
graças à ele”. Esse pensamento, indubitavelmente, passa pela cabeça de muita
gente, mas a questão é: menos hipocrisia, por favor!
Milhares de pessoas estão morrendo agora
porque tem um monte de babacas que decidem curtir uma vibe ou “resolver os problemas e rebeldias” com um trago em um back, com a adrenalina de uma pedra ou
de um comprimido de Ecstasy. Milhares
de pessoas morrem todos os dias por motivos banais do qual poderiam ser
evitados e que muitas pessoas (talvez até você) poderia ter feito alguma coisa
para evitar.
Enquanto existirem usuários, haverá traficantes e traficante não é
burro de fazer entrega, ele coloca algum desesperado para fazer. Um negócio só
existe se tiver clientela. Outra coisa: traficante não usa drogas, pois sabe
que isso vicia e detona com o “negócio”. Um famoso traficante do Brasil, condenado
e preso, admitiu que usar drogas é uma grande burrice, pois vicia e coloca tudo
a perder. Seu nome (talvez você não conheça): Fernando, ou Fernandinho Beira
Mar para os mais “íntimos”.
Embora a maioria dos países não possuam um
tipo penal para lidar, exclusivamente, com mulas, existem nesses casos
atenuantes que precisam ser levadas em consideração. O crime de Marco Archer
foi realizado sem violência, logo, nada justifica uma cruel pena de morte. A
pena de morte, na maioria dos 57 países que a adotam, o fazem em casos de
guerra ou para criminosos violentos, como pedófilos, assassinos e estupradores,
exceto os países assumidamente muçulmanos como Afeganistão, que matam as
pessoas por motivos estúpidos como se casar com um cristão, mudar de religião
ou fazer uma atividade cotidiana proibida pela lei islâmica.
O Brasil pode ser um país onde o código
penal tipifica perfeitamente as modalidades criminais, mas tem um processo
penal da década de 40 que visa conferir o máximo de justiça ao criminoso, já
que ele é sempre preservado, poupado e amparado, diferente do que ocorre com as
vítimas ou seus herdeiros e demais parentes. São realidades distintas, mas que
precisam ser consideradas e analisadas. Esse contraste confunde algumas pessoas
que acabam por se dizer a favor ou contra de algo que nem ao menos conhecem.
Se por um lado a Indonésia é um país de
maioria muçulmana que apoia esse tipo sentenciamento, por outro estavam lidando
com estrangeiros do qual o chefe máximo de seus respectivos Estados vieram interceder
pelos prisioneiros pedindo clemência, não a fim de poupar que eles ficassem
presos, mas para pedir que não lhes fossem tirada a vida, uma vez que a
modalidade criminal e a sentença eram, nitidamente e exageradamente,
contrastantes. Nunca foi solicitado perdão, mas sim clemência, ou seja, que
pagasse pelo crime, mas não com a própria vida.
Houve falha do presidente da Indonésia,
pois um país precisa do outro em acordos bilaterais ou em blocos econômicos e
tal atitude pode prejudicar, seja temporariamente ou definitivamente, as
relações entre os países envolvidos. Ele não estava lidando com cidadãos
locais, mas sim com cinco estrangeiros. Cessando-se acordos entre os países,
mudanças que afetam diretamente a população podem ocorrer à qualquer momento. Isso
de alguma forma também afeta brasileiros que vivem na Indonésia ou que
pretendem visitar o país.
Vale salientar que recentemente a Indonésia pediu clemência à uma detenta do país que está presa na Arabia Saudita por assassinar uma mulher. Chegou a oferecer dinheiro para que a presa não seja condenada a morte por apedrejamento.
Alguns pequenos grupos começaram a
criticar a presidente da república por seu pedido de clemência e isso mostrou
que de fato algumas pessoas merecem a vida medíocre que possuem pelo simples
fato de não usarem o cérebro que possuem. Particularmente não simpatizo com o PT,
tão pouco fiquei satisfeita com a perpetuação da pobreza no país por mais
quatro anos, mas quer eu ou você goste ou não, Dilma é a presidente e o que ela
fez por esses dois homens que erraram e deviam pagar pelos seus respectivos
erros, também faria por você. Não faria porque ela é boazinha ou porque você
merece alguma coisa, mas porque é isso que chefes de Estado fazem diante de
situações delicadas que envolvem a vida ou a integridade física ou psicológica
de nativos de seus respetivos países dentro de outras nações. Se não fosse ela,
seria outro presidente eleito.
A situação que o brasileiro passou e que
outro está para vivenciar no próximo mês, poderia ocorrer com você, com um
parente ou um amigo. “Impossível! Eu não sou bandido!” Certo... E o troco que
você recebeu a mais e não devolveu para o operador de caixa? Isso é considerado
furto pelo código penal e você é um criminoso. E o “gato” para pagar mais
barato ou não pagar energia elétrica e água? Ah, e aquele esquema de pagar uma “pechincha”
para o cara estranho do bairro fornecer TV a cabo? Você sabe que é sinal
furtado, mas usufrui mesmo assim. Você conhece alguém que já obteve
ilicitamente o sinal de internet de alguém? Humm... Já ouviu falar da quebra
nas auto escolas? Aquela em que os fracos pagam para serem aprovados mesmo
sabendo que isso é um cartel proibido no ordenamento jurídico em vigor e que
ele pode ser preso se houver desmanche do esquema durante o seu processo de
propina? Tem gente que até aceita “agradinho” de político em época de eleição e
depois reclama que o candidato vencedor não presta... pelo candidato se conhece
o eleitor. Cara e se você, um amigo ou parente beber ou fumar? Acha justo que o
dono da adega, da fábrica de cigarros ou de cachaça sejam mortos sendo que vocês
consumiram voluntariamente? Ah, e quanto a sua filha novinha que anda com os “vida
loka”, e se a polícia os abordar e ela for presa por estar com drogas que não a
pertencem? Ela deve morrer? Só para constar, a penalidade para esses casos na
Indonésia são bem “flexíveis”, por exemplo... subtraiu algo de alguém? Faca na
tua mão direita para nunca mais subtrair nada e ainda ganha o nome de Capitão Gancho
pelo resto da vida!
O que quero dizer é que, como todos sabem
(ou deveriam saber) é que quando adentramos outro país, respondemos pela lei
local e se cometemos erros, crimes, assumimos o risco de sofrer as sanções
correspondentes, inclusive a de pena de morte, pois esse é o princípio da
soberania nacional. Mas o problema é que muita gente não entendeu a gravidade
do caso e está dando pulos de alegria com o ocorrido, achando que isso vai
mostrar aos traficantes que o crime não compensa, além é claro de aproveitarem
para derramar todo seu veneno sobre quem não concorda com as execuções na
Indonésia. Ah, e é claro, além de inflá-los com a sensação de que nunca “deram
uma escorregada no tomate”.
Se toda a Europa, Ásia e a América Latina
começar a adotar a pena de morte para traficantes, eles continuaram vendendo,
enriquecendo e rindo da sua cara, possivelmente com um carro ou casa melhor que
a sua. Eles não se colocam na linha de frente durante a guerra do tráfico, eles
tem soldados, mulas, laranjas e gente que acredita que eles são frágeis e
facilmente condenados. Logo, raramente um traficante é preso. 90% das prisões
são de pessoas facilmente substituíveis e descartáveis pelo dono da “boca”, que
não deixam de serem criminosos que merecem punição, mas que nem por isso os
usuários deixarão de ser abastecidos na sociedade.
Matar envolvidos, não acaba com o tráfico,
acaba com uma vida que é facilmente trocada por outra que está disposta a
correr o risco por alguns trocados. Todos os dias, homens, mulheres e
adolescentes do Brasil e de outros países são presos em território nacional e
em toda parte do mundo pelo mesmo motivo: carregam elevada quantidade de substancia
entorpecente. A maior parte da população carcerária feminina é constituída de
mulheres que esqueceram de usar o cérebro e venderam ou entregaram drogas, bem
como se envolveram com criminosos. Elas erraram e devem ser punidas e a realidade
é que a maioria delas vão voltar para a prisão depois que conquistarem a
liberdade e antes disso vão destruir a vida de muita gente, mas mata-las só vai
abrir caminho para novas detentas, não muda o comercio ilegal que ocorrerá todo
tempo em toda parte antes, durante e após o cumprimento da pena.
Para pegar peixe grande, não é admissível
se focar em betas e pequenas tilápias de aquário. É preciso mergulhar em águas
profundas, mas o que muito governante quer é o status de “prendeu mais um” e
não de ir a fundo e vencer essa guerra contra o tráfico. Talvez não o façam por
covardia, falta de visão e planejamento, por ganharem alguma coisa com isso ou
por serem tapados e não perceberem o poder que tem nas mãos.
Voltando a Indonésia, o fuzilamento é tão
cruel quanto o fato de saber que será morto. Esqueça que são criminosos, esqueça
a notícia que virou manchete no mundo, apenas tente se colocar no lugar de
qualquer pessoa nessa condição: um policial adentra a sua cela, com ou sem o
seu advogado e informa que será fuzilado em determinado dia e horário. Você se
assusta e não sabe o que fazer, pois não tem para onde ir. Então lhe transferem
de unidade prisional e explicam como será a execução: você será encapuzado e
amarrado nas mãos e pés em uma espécie de tronco (ou coluna). Doze policias de
elite vão se posicionar diante de você, armados. Apenas cinco armas estão
carregadas com projeteis mortais, a fim de não permitir que o policial saiba
qual deles deu o tiro que tirará a sua vida. Antes disso, você tem três minutos
para “se acalmar”, depois vai escolher se quer morrer de joelhos, de pé ou
sentado. Um policial de cargo superior (tenente ou comandante) dá o sinal para
os homens começarem a atirar. Com o sinal dado, você começa a ser alvejado
mortalmente. Caso eles terminem e mesmo com a dor você ainda esteja vivo,
levará um tiro na altura da orelha. Pronto, acabou sua vida. Agora imagina como
fica a cabeça de uma pessoa que vai passar por isso. Se em países que adotam a
injeção letal a ideia assusta os sentenciados e parentes, imagine o
fuzilamento.
Quem se envolve com a criminalidade deve
ser punido sim e se tentar alvejar ou agredir a polícia deve levar tratamento à
altura, sem direitos humanos interferindo. Talvez muita gente não tenha
entendido ainda, mas o foco não é o perdão e sim a forma quase medieval com que
uma sentença é conferida no país em questão. Nenhum governante quer que o crime
seja esquecido e é isso que as pessoas pouco inteligentes acreditam. É uma
questão que supera a humanidade e entra na esfera política e econômica das
nações envolvidas. Criminosos deveriam trabalhar dentro da prisão para garantir
sua alimentação e aprenderem algo útil, ao invés de ficar planejando novos
crimes desde que acordam. Criminosos deveriam ter um tratamento mais duro no
Brasil sim, mas fuzilar mula é o mesmo que cortamos as mãos de todos os babacas
que um dia tiraram vantagem de terceiros deforma ilícita: “Pra que devolver o
troco? Ela me voltou errado porque quis”... A prática não vai acabar, só passar
para quem ainda possui as duas mãos.
Não estou defendendo criminoso, não faria
isso, mas apenas viso esclarecer o que significa tamanha consternação
repercutida nos quatro cantos do mundo e que muita gente, inclusive alguns
membros da imprensa marrom, não conseguem entender, alguns por falta de
conhecimento e outros por burrice opcional.
O Brasil ou a Holanda, que também se
mostrou indignada com a execução de um holandês, não almeja exceções ou
desrespeitar as leis de qualquer país, apenas preservar a vida de seus
cidadãos. Muitas outras execuções ocorrerão esse ano, seja na Indonésia, no
Iraque, no Vietnã, no Irã ou em qualquer outro país, e nada impede que esteja
um brasileiro entre os condenados, mas a questão não é a nacionalidade do
apenado, mas sim: até onde vai a nossa hipocrisia de agir como juízes
autodidata? Até onde conseguimos misturar nossas frustrações com realidades
distintas que podem afetar o meio em que vivemos e até onde nos consideraremos bons e perfeitos demais, mesmo sem termos nada a ver com o
problema alheio?
PS: Será que os “atiradores de pedra”
estariam tão felizes com a execução se os dois brasileiros (o fuzilado e o que
passará pelo processo em breve) fossem gays ou negros? Algo me diz que surgiria
uma remota onda de síndrome de inconformismo no ar... Óleo de peroba mandou um
abraço!
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Sobre a Autora do Artigo
Syl é jornalista, pianista, apaixonada por carros e artes (em especial a primeira e a sétima) e muitas outras coisas. Nas horas vagas compartilha conhecimento no fantástico mundo da bloguesfera.
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